A IMPORTÂNCIA DA INFORMÁTICA EM ESPAÇOS SOCIAIS


1 INTRODUÇÃO


É notável a grande quantidade de instituições na cidade de Santa Maria, que beneficiam educacionalmente menores carentes, bem como a necessidade que tais apresentam, de uma maior participação e envolvimento de colaboradores voluntários com possibilidade de aplicar projetos e atividades a fim de enriquecer o conhecimento de tais jovens e aumentar seus horizontes de perspectivas futuras no âmbito pessoal e social.
Nessa perspectiva, que acadêmicas do curso de Licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário Franciscano idealizaram o projeto que aqui se apresenta.
Foi escolhida uma Instituição na cidade de Santa Maria. Esta é uma entidade assistencial e educacional que a mais de 70 anos assiste com amor crianças em situação de risco. Hoje atende cem crianças sendo setenta e duas meninas e vinte e oito meninos de seis a doze anos de idade, oriundos em sua grande maioria de famílias desestruturadas, de baixa renda que residem em bairros carentes de nossa cidade. Desde a sua fundação e até hoje sua vocação deste Espaço Social é ensinar o caminho da verdadeira cidadania aos pequenos cidadãos que aportam neste Lar. A Instituição sobrevive de doações da comunidade, dos colaboradores efetivos, e possuem um brechó e uma livraria na própria entidade. Desenvolve a Educação Formal, Atividades Educativas e recreação através de várias oficinas, entre elas: informática, espanhol, futebol, reforço, ponto cruz, fuxico, educação ambiental, educação física, desenho e violão. Além da integração com os familiares dos assistidos, a estes também  são oferecidas atividades através de projetos específicos, onde se destacam a Valorização da Vida, com palestras formativas com o objetivo de auxiliar de certa forma no resgate da cidadania.
Todas as atividades são oferecidas gratuitamente aos alunos e familiares, com a colaboração de um grande número de profissionais voluntários envolvidos na orientação e realização das tarefas nas diversas áreas de atuação, além de estagiários e funcionários da Entidade.
 Com o objetivo principal de analisar quais os conhecimentos das crianças em relação à informática e propor experiências que instiguem imaginação, criatividade, valores, auto-estima e autonomia por meio desta ferramenta que invade o dia a dia da maioria das pessoas, e ainda com o intuito de estudar as possibilidades de atuação do pedagogo nos espaços não-escolares.

2 INSTITUIÇÃO E PROPOSTA

A partir de uma primeira visita realizada ao Espaço Social, nos foi solicitado um trabalho que contemplasse a inclusão digital, qual segundo Valente (2002, p.1):

Hoje, a utilização de computadores na educação é muito mais diversificada, interessante e desafiadora do que simplesmente a de transmitir informação ao aprendiz. O computador pode também ser utilizado para enriquecer ambientes de aprendizagem e auxiliar o aprendiz no processo de construção do seu conhecimento.

 Apresentada a proposta e após conversas com a coordenadora foi resolvido trabalhar a informática básica junto à leitura, escrita e produção textual, competências que a grande maioria dos alunos apresentava dificuldades. Salientando-se que todas visam à completa interpretação dos fatos vividos. Esta, por sua vez, faz parte do processo de aprendizagem do aluno, gerar hipóteses, verificar e compreender sobre o material, tema qual chega ao seu conhecimento. Isso se confirma a partir da seguinte consideração: “o processo de leitura deve garantir que o leitor compreenda o texto e que possa ir construindo uma ideia sobre seu conteúdo, extraindo dele o que lhe interessa, em função dos seus objetivos” (SOLE 1998, p.31). O computador neste caso serviria como instrumento de prática entre o português e a informática básica.
Como existe uma carência maior na área do aprendizado em recursos de informática a e o laboratório de informática da instituição estava à disposição e sem uso, por falta de profissionais voluntários. A coordenadora pedagógica selecionou, para participar do projeto, seis alunas que não estavam ainda inclusas em nenhuma atividade oferecida pelo Lar e apresentavam dificuldades na escrita e leitura.
Importante salientar que o número reduzido de alunas se dá pelo fato de o laboratório contar com apenas seis computadores novos e os outros seis serem sucateados. As meninas participantes deste projeto têm de oito a dez anos de idade e está no 3º e 4º ano do ensino fundamental.
A seguir será apresentado e discorrido sobre os encontros mais significativos do projeto.

2.1 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

O primeiro contato com o publico alvo e com o laboratório de informática foi no dia 05 de Abril de 2010. Houve uma breve conversa para apresentar o que iria se desenvolver nos encontros e uma troca de experiências encantadora. Descobri-se que seria o primeiro contato direto destas crianças com as máquinas. Então, por ser o primeiro dia do projeto, explicou-se acerca dos componentes do computador, desde como se liga e desliga corretamente e por último as alunas ficaram bem à vontade para desenhar, colorir e criar no paint.  A partir desse primeiro encontro percebeu-se que tal seria um desafio, como aponta Haetinger (2005, p.71)

(...) de nada adianta o uso da mais complexa tecnologia, se não lembrarmos que na ponta de cada máquina ou rede, encontram-se seres humanos, com toda sua singularidade e complexidade emocional e realidade social em que estão inseridos. Por isso, uma das características do professor, educador ou facilitador é compreender as pessoas, ter empatia e tolerância, motivar, respeitar, incentivar, apoiar.

Dessa forma, com tal foco foi trabalhada primeiramente a informática básica por será algo novo para as alunas. Somente no dia 26 de Abril foi dado inicio as atividades de digitação, tendo por motivo o poema “Amor de mãe” escolhido por estar próxima a data de dia das mães. Para desenvolver as atividades do encontro, primeiramente foi solicitado a todas que lessem o texto em voz alta e logo após, começassem a digitar. Foram constatadas dificuldades tanto na leitura como na digitação. O que não foi considerado um problema, pois assim mais despertaria a curiosidade das alunas, pois BAMBERGER, 1991, p.9 afirma que é importante que os sujeitos sejam curiosos e motivados para a aprendizagem, o “direito de ler” significa igualmente o de desenvolver as potencialidades intelectuais e espirituais, o de aprender e progredir.
A interpretação deste poema junto de conteúdos apreendidos foi usada em quatro encontros, e a partir dele trabalhado temas como pontuação, separação de sílabas, encontros consonantais, oxítonas, paroxítonas proparoxítonas e a construção de um novo texto sobre o tema: Como vejo minha mãe. No âmbito da informática foram apresentadas e utilizadas ferramentas do Word como: selecionar texto, trocar fonte, tamanho da letra, mudar a cor, inserir um desenho do arquivo e salvar o material produzido.
A produção textual foi muito boa, porém todos com erros de gramática, acentuação, pontuação e digitação.
O desenvolvimento das atividades proporciona as acadêmicas de pedagogia, reflexões como a de que se tem que levar em consideração as ideias dos alunos como diz VALENTE (2002, p.37), a escola deve ser capaz de atender as demandas e necessidades dos alunos. O professor e os alunos devem ter autonomia e responsabilidade para decidir o como e o que deve ser tratado nas aulas. Assim foi pedida a opinião às alunas sobre o que elas gostariam de trabalhar no laboratório, vários foram os temas: músicas, textos do caderno de aula, poema, versos e criação de textos.
No último encontro do semestre aconteceu no dia 21 de Junho, e neste foi proposto às meninas que construíssem um texto sobre o final de semana e assim foi possível observar que o grupo já estava tendo um pouco mais de autonomia para digitar, haviam melhorado em pontos como pontuação e acentuação, itens que somente a prática constante vai aperfeiçoando cada vez mais.

3 METODOLOGIA


Este projeto utilizou-se de abordagem qualitativa do tipo pesquisa–ação, na qual tomou como base o contexto vivido na instituição. A metodologia escolhida teve como objetivo facilitar a reflexão e a compreensão do contexto em questão, inserido numa realidade histórica específica.
Ludke & André (1986, p.18) referem-se à abordagem qualitativa como aquela que “[...] se desenvolve numa situação natural, é rica em dados descritivos e tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada”. O enfoque qualitativo, segundo os autores, preocupa-se com um nível de realidade que não pode ser somente quantificado; explora um universo de conhecimentos, experiências e significações que se relacionam a um espaço mais íntimo de concepções e práticas.
Segundo Silva e Menezes (2001, p. 20) a abordagem qualitativa:

Pesquisa Qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não podem ser traduzido em números. A interpretação do fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento- chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.

Para tanto a metodologia adotada foi a denominada pesquisa-ação, pois, segundo Thiollent (1992, p.14)

(...) a pesquisa-ção  é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação  ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Thiollent (1992) considera que a pesquisa-ação não é constituída apenas pela ação ou pela participação. Na verdade, para que haja sua efetivação é necessário que esta produza conhecimento e contribua para a discussão e fundamentação das questões abordadas. Parte da informação gerada e divulgada, de diversas formas e por meios apropriados, no contexto vivido.
Tal modalidade de aplicação foi selecionada por acreditar-se que dentre tantas analisadas esta vem a tender as necessidades de pesquisa do público academio envolvido no projeto, ao mesmo tempo em que vem a trazer grandes contribuições para o público participante do projeto.

4 RESULTADOS

Após a realização deste projeto, levando o contexto educacional para dentro de uma instituição beneficente, e desenvolvendo atividades pedagógicas de aperfeiçoamento dos conhecimentos e uso da língua portuguesa, tendo como ferramenta e também foco de desenvolvimento a informática, é possível afirmar que a promoção do conhecimento a jovens, aqui crianças, tem muito mais eficácia se norteada por uma visão mais abrangente, por um objetivo além conhecimentos imediatos. Neste caso, se procurou oferecer a um grupo de crianças, conhecimentos no nível de mundo, através da leitura de textos de temáticas diversas, ao mesmo tempo em que se introduziam atividades de tipo ortográficas e morfossintáticas e isso tudo através de ferramentas de interação social e de comunicação mundial, o computador.
Tal entrosamento de atividades resultou em um grande interesse nos alunos por todas as atividades propostas, por serem realizadas de forma diferenciada, com o uso da informática, e ainda proporcionando que ficassem conhecendo grande parte das possibilidades de tal tecnologia. Ao final do projeto constatou-se um grande avanço no desenvolvimento escolar deste grupo de meninas.

5 CONCLUSÃO


Foi de grande valia pessoal e de conhecimento acadêmico o trabalho realizado junto a tal espaço Social, pois foi possível conhecer uma realidade diferente da realidade escolar da rede municipal, estadual e privada bem como ter a oportunidade de desenvolver um projeto voluntário, em uma sociedade que é tão carente de tais ações.
 Foi possível refletir sobre o fato de já se estar tão acostumado com a era da tecnologia digital, computadores e afins que se torna, bastante comovente ver uma realidade na quais jovens que até o momento não haviam tido qualquer contato com tal instrumento. O retorno de tal atividade vem a ser mais gratificante ainda por se tratar de um publico com conhecimento tão raso em relação a tais recursos, pois se percebeu sentimentos de euforia, medo, curiosidade no olhar das alunas, e tais faziam com que os encontros fossem ricos em perguntas, solicitações, e vontade de querer saber sempre mais.

 

REFERÊNCIAS


BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. 5ed. São Paulo: editora Ática, 1991.

HAETINGER, Max G (org.). O universo criativo da criança na educação. Vol. 3. Porto Alegre, 2005.
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LUDKE, Menga. & ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

SILVA, Edna Lúcia Da. MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 3. ed. rev. atual. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, 2001.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 5. ed. São Paulo. Cortez: Autores Associado, 1992.

VALENTE, Jose Armando (org.). O computador na sociedade do conhecimento. Coordenador associado do Núcleo de Informática Aplicada á educação – Universidade estadual de Campinas – Campinas: Nied; 2002.

 

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